quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Página 64 do Livro: Histórias de Barth Júnior, etc

Clotilde
Não, não batia. Mesmo por que eu nunca discutia com ele – mesmo quando se alterava, eu permanecia calada.
Gilberto
E por que a senhora aceitava essa situação?
Clotilde
Ele foi o meu primeiro e único homem, meu filho. E além do mais, eu não trabalhava fora. Não tinha grandes estudos. Sempre fui educada para ser uma boa dona de casa. Quando você fez um
aninho, eu arrumei um bolo e sua tia Úrsula me ajudava a confeitá-lo. Quando seu pai chegou do trabalho, todo apressado – arrumou as suas roupas e quando cheguei perto dele, me disse que ia embora para sempre. Tentei ainda convencê-lo a ir após o seu aniversário, porém ele me virou as costas e bateu com a porta.
Gilberto
É por isso que nas minhas fotos do primeiro aniversário, meu pai já não aparecia – e a senhora estava triste, e quando perguntava, dizia que estava resfriada...
Úrsula
A sua mãe, meu querido, naquele dia chorou muito e mesmo assim, manteve o teu aniversário. Eu ainda falei para ir para a minha casa, mas ela não aceitou!
Clotilde
Você já tinha os seus problemas e eu não queria ser mais um.
Juliana
Alguns dias depois sua tia se mudou para Cuiabá.
Quitéria
Deve ter sido um choque para ele saber de toda essa história...
Juliana
Foi, porém ele superou.
Quitéria
Eu entendo que a Clotilde agiu com boas intenções em não falar a verdade ao filho, mas como tem o ditado que diz: “mentira tem pernas curtas”!
Juliana
É verdade... Eu aconselho a todas as mães a falarem a verdade aos filhos. Se o marido abandona o lar para morar com outra, é porque ele não gosta nem da mulher nem dos filhos – então, é um direito dele ir em busca da sua suposta felicidade com quem ele quiser. Nem a esposa e nem filhos poderão impedi-lo. Lei nenhuma poderá obrigar alguém a gostar de alguém. Ninguém manda no coração de ninguém!
Quitéria
É isso. Coração dos outros é terra que ninguém pisa!
Juliana
Se o marido vai embora, os filhos, desde muito cedo devem saber – Não podemos em hipótese alguma alimentar falsas esperanças aos filhos: Olha papai é muito bom, ele vai voltar, ele gosta de você...
Quitéria
Criança não é burra. Ela percebe logo que se ele gostasse tanto assim, não estaria ao seu lado? Por que nunca aparece, por que nunca escreve uma cartinha? Um telefonema?
Juliana
Até mesmo os presos que gostam dos filhos, enviam-lhes cartas ou então telefonam expressando o seu carinho!
Quitéria
Esse negócio de preso telefonando, tá causando problema com as operadoras de celular –querem criar bloqueio de dentro dos presídios. 
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