Personagens
do livro: Histórias de Barth Júnior, etc (página 64) - 05/07/2012
Clotilde
Não,
não batia. Mesmo por que eu nunca discutia com ele – mesmo quando
se alterava, eu permanecia calada.
Gilberto
E
por que a senhora aceitava essa situação?
Clotilde
Ele
foi o meu primeiro e único homem, meu filho. E além do mais, eu não
trabalhava fora. Não tinha grandes estudos. Sempre fui educada para
ser uma boa dona de casa. Quando você fez um aninho, eu arrumei um
bolo e sua tia Úrsula me ajudava a confeitá-lo. Quando seu pai
chegou do trabalho, todo apressado – arrumou as suas roupas e
quando cheguei perto dele, me disse que ia embora para sempre. Tentei
ainda convencê-lo a ir após o seu aniversário, porém ele me virou
as costas e bateu com a porta.
Gilberto
É
por isso que nas minhas fotos do primeiro aniversário, meu pai já
não aparecia – e a senhora estava triste, e quando perguntava,
dizia que estava resfriada...
Úrsula
A
sua mãe, meu querido, naquele dia chorou muito e mesmo assim,
manteve o teu aniversário. Eu ainda falei para ir para a minha casa,
mas ela não aceitou!
Clotilde
Você
já tinha os seus problemas e eu não queria ser mais um.
Juliana
Alguns
dias depois sua tia se mudou para Cuiabá.
Quitéria
Deve
ter sido um choque para ele saber de toda essa história...
Juliana
Foi,
porém ele superou.
Quitéria
Eu
entendo que a Clotilde agiu com boas intenções em não falar a
verdade ao filho, mas como tem o ditado que diz: “mentira tem
pernas curtas”!
Juliana
É
verdade... Eu aconselho a todas as mães a falarem a verdade aos
filhos. Se o marido abandona o lar para morar com outra, é porque
ele não gosta nem da mulher nem dos filhos – então, é um direito
dele ir em busca da sua suposta felicidade com quem ele quiser. Nem a
esposa e nem filhos poderão impedi-lo. Lei nenhuma poderá obrigar
alguém a gostar de alguém. Ninguém manda no coração de ninguém!
Quitéria
É
isso. Coração dos outros é terra que ninguém pisa!
Juliana
Se
o marido vai embora, os filhos, desde muito cedo devem saber – Não
podemos em hipótese alguma alimentar falsas esperanças aos filhos:
Olha papai é muito bom, ele vai voltar, ele gosta de você...
Quitéria
Criança
não é burra. Ela percebe logo que se ele gostasse tanto assim, não
estaria ao seu lado? Por que nunca aparece, por que nunca escreve uma
cartinha? Um telefonema?
Juliana
Até
mesmo os presos que gostam dos filhos, enviam-lhes cartas ou então
telefonam expressando o seu carinho!
Quitéria
Esse
negócio de preso telefonando, tá
causando problema com as operadoras de celular – querem criar
bloqueio de dentro dos presídios. (64)
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